segunda-feira, 28 de abril de 2008

Lamento, ele queimou.


De um nerd para seu computador. Que descanse em paz

A tragédia começou numa sexta-feira, semanas atrás. Num rompante a lá Ursulão - aquele urso do desenho animado que queria fazer tudo por contra própria, tipo instalar uma geladeira, e acabava derrubando a casa toda – eu resolvei dar fim no problema de cooler do meu computador, e acabei dando fim no computador todo. Mas vamos por partes.

Vou até a loja de informática pronto para comprar um novo cooler e despreocupado pois é uma das coisas mais baratas do computador - é só o ventiladorzinho que fica em cima do processador. Chego lá, a mulher, uma senhora indo pra lá da meia idade já, me pergunta o socket do meu processador. Eu ri por dentro e pensei comigo: “Há, não é com essa que você vai me pegar!”. Tão logo respondi ela me traz o cooler novo para o meu socket(ui), mas já prevendo a cagada que ia acontecer, ela ainda pergunta se eu não queria que eles instalassem para mim. Com meus longos anos de nerdice me ofendi com a pergunta e quase mandei ela ir ensinar o padre a rezar missa.

15 minutos depois que eu saí da loja pensando no que eu poderia ter dito para a atendente para mostrá-la que não sou um desses idiotas qualquer que mexem com computador – imagina... -, eu volto lá imaginando a cara ela faria ao me ver retornar com o computador debaixo dos braços. Foi uma cara de triunfo, é claro. “Hihihi, deu problema?”. Se eu não estivesse desesperado com o fato do meu computador não ligar mais depois de eu ter trocado o cooler, teria respondido a altura; porém me contentei e entreguei-o nas mãos de um técnico.

Ele levou o gabinete lá para dentro enquanto eu, aflito, espiava pela porta o que ele fazia. A atendente, para concretizar a vingança, ainda grita em bom som para todos que ali estavam escutarem “Ele deve ter queimado o processador quando trocou o cooler.”. Engoli o orgulho e assisti emocionado o técnico mexendo no meu computador todo aberto e fragilizado, ali naquela mesa fria, entre cadáveres eletrônicos. Eu me perguntava o que seria dele torcendo para que não tivesse chegado a sua hora. Eis então que o técnico levanta os olhos desapontados, balança a cabeça negativamente, larga suas ferramenta cirúrgicas e enxuga o suor da testa. Olha para mim tentando medir as palavras, mas não havia o que fazer ou o que dizer: o computador tinha queimado.

O pior não era ele ter partido dessa para melhor, e sim o fato que fui eu, bancando o Ursulão, que inoculei nele a semente mortífera. A atendente chegou até mim – eu nem conseguia tirar os olhos do computador ainda aberto na minha frente - e mandou “Hihihi, que prejuízo hein... parece até que eu tinha previsto isso quando te ofereci ajuda pra instalar.”. A ignorei. Pedi ao técnico que tirasses os restos da minha frente; eu não podia mais olhar.

Desde sua ida dessa para melhor, andei de lan em lan, buscando preencher o vazio que ele tinha deixado em mim; busquei em outros o que ele me dava, mas era tudo em vão; e ao chegar em casa, e ver o lugar vazio que ele costumava ter no meu quarto, só me dava um aperto enorme no coração. Meus dedos não tinham mais função, vagavam inertes no ar. E agora, depois de 2 anos com muitas histórias, de várias noites em claro quando ele era remédio para minha insônia, eu dou um adeus entristecido para aquele que só me fez feliz.

Mas ok. Aprendi a lição; não vou mais trocar cooler nenhum do meu computador novo. Vou ficar no lugar onde todo não-técnico deve ficar: atrás do mouse e do teclado.

3 comentários:

Carlos Pegurski disse...

Minhas condolências, César. Lamento nunca mais matar gangsters atropelados com um carro de funerária da década de vinte. Era o que mais me satisfazia.
Lamento também pelos postos de gasolina que teimarão em manter-se íntegros, sem explosões de qualquer sorte.
E lamento ainda pelo azar que na certa sobre seu viver, porque nem Murphy queimava teu processador assim.
Abraços solidários [mas de longe, pra não pegar a urucubaca],
Carlos.

Thiago Elias disse...

Bem vindo novamente ao muno virtual, se eu fosse você dava cabo àquela atendente...

Aline disse...

Esse texto foi altamente edificante pra mim.

Usarei-o na minha próxima cantada...

"me traz o seu cooler para o meu socket"


UIGATO. Teve uma piscadelinha nessa parte...
=P