sábado, 28 de fevereiro de 2009

Romeu e Julieta: hoje.


É uma história, no mínimo, boa. Um bom estilo trágico que para melhorar só se descobrissem que Romeu era irmão de Julieta e que, dado essa escapada marota da Senhora Capuleto, a intriga entre as famílias tornou-se histórica. Claro que isso não consta, e claro que não estou tentando desmerecer aquilo que persiste há séculos como um clássico histórico, mas o fato é que persistir na história não é o mesmo que resistir ao desenrolar dela(reflexão pseudo-filosófica digna de um café com pão-de-queijo em alguma padaria qualquer).
Fizeram até um filme versão moderna da história, e é curioso assistir para ver como a tragédia seria na modernidade; carros, armas de fogo, TV. Tudo muito bom, mas acho que foi a ultima versão moderna viável de ser feita. Por que? Pensem só como seria um Romeu e Julieta mais moderno(talvez pós-moderno!).

Para começo de história, Romeu e Julieta teriam Orkut, o que ia complicar as coisas... Julieta teria no seu perfil alguma comunidade de família, tão em moda. ‘Família Capuleto’, e outra semelhante ‘Odeio os Montecchios!’; isso provavelmente já acabaria com o drama logo no primeiro ato pois saberiam quem é quem.
No Orkut do Romeu teria um depoimento todo apaixonado de Rosalina(para quem não lembra, é a ‘outra’, aquela que sacaneia ele), e teria ainda fotos de rosto colado com a moça e legendas do tipo ‘És tu minha razão de viver tão sombrias horas orvalhadas’. Julieta ia ver isso e daria pulos de raiva que se converteriam em recadinhos atravessados na página de Romeu, o que também está em moda.

Quando se separassem após jurarem amor eterno, sequer sofreriam de tantas saudades. Cada qual com seus celulares iam mandar torpedinhos apaixonados e abreviados. Iam telefonar e passar horas a fio no telefone, o que suspeito que desse um fim ao drama no segundo ato, pois ao contrário da história original, iriam se conhecer bem e logo Julieta ia sacar o galinha que era Romeu(lembrem-se de Rosalina), e Romeu se assustaria com a dramaticidade da moça(fingir-se de morta não é lá muito razoável).
Caso a coisa toda continuasse após os percalços da maravilhosa era da comunicação instantânea, onipresente e que corta todo o barato romântico, eles oficializariam sua condição de casal. No MSN os dois teriam coraçõezinhos em seus Nicks, algo tipo Ro (coração) Ju, e vice-versa, mas é claro que bloqueariam todos aqueles primos chatos inconvenientes que ficam se matando só por que uns são Montecchios e outros Capuletos.

E se o drama chegar até o ultimo ato, quando ocorre o mais famoso mal-entendido das histórias, é claro que não será por que uma carta extraviou-se. Quem, hoje em dia, usaria de papel e caneta(!!!) para se comunicar? Que nada. É muito provável que a porcaria toda ia se dar via e-mail. Iam mandar um e-mail a Romeu avisando do plano e da falsa morte de Julieta, mas o servidor de e-mail dele iria estar off-line, hackeado, ou em manutenção, o que impossibilitaria a história ter um final feliz. Romeu vendo Julieta ‘morta’ se mataria, e em seguida, quando ela retornasse de seu mórbido sono, Julieta veria seu amado morto e morreria também(desta vez de verdade).
Claro que hoje em dia isso tudo seria uma grande baboseira, até por que todo mundo sabe que esse tipo de drama ta fora de moda; quem vai ficar dando pelota tamanha pra uma ficada ocasional em uma festa a fantasia? Ninguém, quanto mais morrer por isso...

Enfim, "Jamais história alguma houve mais dolorosa / Do que a de Julieta e a do seu Romeu.". Não mesmo, mas só por que não aconteceu nos dias de hoje...

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Pasquinismo

A opressão da mídia gorda sobre os movimentos sociais, cuja corresponsabilidade por tal usurpação democrática paira sobre certos blogueiros provincianos no aniversário de vinte anos da nossa Carta Magna: a influência em um jornal ilibado de dois filhotes do sistema, aspirantes à colunistas de vida pacata e de boemia matutina a serem custeadas pelas ratazanas da imprensa marrom.



Independentemente do posicionamento político-partidário que cada um nutra a partir de convicções íntimas [desde que se seja requianista], é sabido que a História se constrói a partir das relações de poder - a saber, a partir da perpetuação dessas relações.

Essas relações de poder têm implicantes sociais bastante importantes. Não à toa, o governo federal no últimos anos encontrou no sistema de cotas uma forma paleativa de contemplar os afrodescendentes e os estudantes da rede pública no acesso ao Ensino Superior. [Importante: no Estado Democrático de Direito em que vivemos, recheados de clichês como esse, é vital que se possa opinar a respeito de políticas compensatórias em mesas de bar sem assédio moral de militantes xiitas, estudantes de antropologia ou sínteses desse casamento].

Novamente, independentemente do posicionamento ideológico que se possa sustentar acerca da validade dessas políticas públicas, é necessário admitir que se trata de uma vitória dos movimentos sociais ligados às causas socioeconômica e etnocultural. São movimentos orgânicos que nascem como antítese natural da dinâmica social - e sua existência é tão legítima quanto a existência do Rotary Club, da Rede Globo, da Daslu e suas respectivas esferas valorativas.

No Estado Democrático de Direito em que vivemos - insisto no jargão tão comum nesse último ano, em que a CF88 completou vinte primaveras -, mais que uma possibilidade, constitui desejável manifestação da orientação ideológica pertencer a nichos como os citados acima [exclua-se o engajamento antropológico]. É salutar para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária [já riria o Rei: como é grande o meu amor por clichês] esses vínculos institucionais.

Pelas razões aqui levantadas, não se pode admitir sem interrogações críticas que passam pela função social do jornalismo que um veículo impresso, entre os dez mais lidos do país, traga [pasmem!] no seu editorial mensagens como a seguinte: "O Fórum Social sempre chamou mais a atenção do público pelas presenças inusitadas. Ora são grupos indígenas fazendo seus exóticos rituais em praça pública, ora são movimentos anarquistas envolvendo a população em debochados jogos lúdicos." [Gazeta do Povo, 31/01/2009]

Para um jornal que está entre os dez mais respeitados do país, é uma pena que não haja uma cobertura inteligente e ampla sobre o Fórum Social Mundial. É de se estranhar, aliás. É uma pena também que façam tão marginal e monocromática a pluralidade dos movimentos sociais. E é lastimável, principalmente, que ainda considerem a cultura ameríndia 'exótica', mesmo depois de quinhentos anos de convivência compulsória, razoavelmente amena.

A dúvida persiste: apenas jornalistas podem escrever em jornais? Maus exemplos como esse podem derrubar o argumento da exclusividade profissional do jornalista. Mas isso é papo pra outro papo.
Por ora, se for-me permitida uma conclusão, devo dizer que, após muita análise, asseguro que um jornal idôneo como é a Gazeta só pode ter sido corrompido no íntimo por uma dupla de estudantezinhos dignos de Sessão da Tarde. A práxis jornalística dessa maculada instituição, quase centenária, está seriamente comprometida graças à contramilitância contracultural de dois lobinhos reitorianos blogueiros. Tudo bem, fazem Sociais, mas passaram dos limites.

Em tempo, aproveito o megafone para me posicionar em defesa dos movimentos sociais, seja eles quais forem, como forem, quem forem, para quem forem e por quanto forem; contra o aumento da passagem [passe livre para os homens de bem!]; em defesa do jornalismo objetivo, imparcial, neutro e utópico; contra o terceiro mandato; a favor do Requião...