segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Casos de família - parte 1


... a inexorável necessidade do caçula des-brochar.



Tudo começa com uma mãe, solene e nostálgica, lembrando de como eram os filhos. Aí o pai, tomando o mesmo barco, cita um fato familiar histórico aqui, outro fato familiar histórico acolá, e ficam todos os dois com seus sorrisos bobos no rosto. Aos filhos, como agentes de tais fatos familiares históricos – posição essa que implica em constrangimentos/arrependimentos/futuras terapias psico-químicas com profissionais capacitados -, resta a tácita vontade de mudar de assunto. Contudo, a mesa de jantar – também tida como um ritual cerimonial de provação, julgamento e coroação – é território dos pais, e só estes podem guiar a direção dos assuntos, o que nos leva novamente à mãe solene e nostálgica.

- Meus filhos estão crescendo. Esse ano todos tomaram um rumo na vida, isso faz uma mãe tão feliz!
- Ai, mãe! Para com isso. – o filho mais velho é sempre o mais não-nostálgico.
- Ah, eu to feliz, filho. Você professor, formado, se sustentando. Teu irmão com trabalho garantido, tentando um negócio próprio. E o César...

(silêncio na mesa, todos os olhos se voltam por um instante para o caçula de futuro incerto calado no outro lado da mesa)

- Bem – continua a mãe fingindo que só tinha tido dois filhos - logo virão os netos, né? Vai ser tão bom.
- E só vai faltar o César, certo!? – diz o pai, garantindo que o caçula não vai sair limpo dessa história.
- O César é o mais novo, e ele também ta indo no seu caminho, ta virando homem e...

(risadas irrompem na mesa, menos naquele que está recebendo as risadas pois, por algum motivo, ‘César’ e ‘homem’ na mesma frase sempre foi motivo de riso)

- Ele é um patinho feio ainda, mas um dia vai ser um cisne bonito e vistoso – continua a mãe com toda sua bagagem metafórica suspeita.
- Caramba, que papo é esse, mãe!?
- Ah, César. Você sabe... Você ainda tem que desabrochar, igual a uma flor. – nunca a inocência materna beirou tanto a maldade materna.

(risadas novamente)

- Mãe, não sei se percebeu, mas você não tá ajudando muito...
- Que nada, César! Ela ta certa... só falta você DES-brochar. Entendeu, né? DES-brochar! – irmão mais velho além de não nostálgico tem o dom de sacanear o caçula.

Depois de mais um série de gargalhadas na mesa, gargalhadas essas que o caçula – a saber, eu – não compartilhou, o santa inquisição no seio familiar se deu por encerrada. Veredicto? Fogueira moral para este pecador que vos fala. ‘Queima! Queima! Queima!’, gritava a multidão ensandecida.

3 comentários:

Carlos Pegurski disse...

Pior do que ser comparado um cisne; do que ser sabatinado em meio à mais tradicional reunião familiar; que ouvir isso da mãe na companhia dos irmãos... Enfim, pior que tudo é isso é ler "Parte 1".

Thainá disse...

cordes-broxar?
irmão mais novo, ME LIGA!
hahahhahahahaha
:x
(mentira!)

Thiago Elias disse...

cara, isso não pode ser real!
pobre cesar...