sábado, 5 de julho de 2008

Amizades


Creio não correr o risco de incumbir em nenhum erro ao afirmar que todos já tiveram um melhor amigo, ou um grande amigo, por algum tempo e de repente esta pessoa, que outrora fora tão importante na sua vida, simplesmente desapareceu do seu convívio. Por ser uma proposição com que nos identificamos tão facilmente acho que merece ser o centro da nossa análise cotidiana de hoje: as amizades.

Provavelmente você já teve a oportunidade de ir ao mercado com seus pais, e ver um deles reencontrar um velho amigo. As conversas sempre são estranhas:

- E aí como vai a esposa?

- Me separei, a safada levou quase tudo!

Ou do tipo:

- Opa -saudação comumente usada pelo fato de ter esquecido o nome o amigo em comum – como vai a empresa que você montou?

-Faliu!

Ou trazendo para casos mais próximos, dos jovens leitores deste blog, é como aquele grupinho de amigos que era tão unido no segundo grau e que durante a faculdade faz algum esforço para se encontrar, mas poucas reuniões depois todos percebem que as coisas já não são as mesmas e nunca mais se encontram (exclusas do nunca mais as exceções dos encontros nos mercados, alias parece que os mercados têm algum tipo que imã para fazer velhos amigos se reencontrarem). E o pior é que o mais vagabundo do grupo sempre se torna o mais bem sucedido e que viajou a Europa!

Enfim, as razões pela perda de interesse nas amizades parecem ser obvias, perde-se o laço que unia as pessoas rotineiramente, seja o trabalho, seja o emprego, seja a moradia. O que me faz pensar que as amizades verdadeiras são pouquíssimas, apesar de haver várias pessoas que você considera amigos nos seus círculos sociais (igreja, faculdade, clube de ajuda a populações carentes) uma vez cortado o pressuposto do pertencimento a estas instituições perde-se a própria essência do que unia estes amigos. E logo os papos tornam-se superficiais, simplesmente relembrando o passado, enfeitando as histórias. É até bom reunir os velhos amigos às vezes, mas quando você percebe que todos os encontros cheiram a naftalina é sinal de que a amizade não vai muito bem!

E é isso que me assusta com relação ao presente. Imagino daqui algum tempo quando o César se tornar um grande sociólogo, ou apenas um gênio literato incompreendido, e quando o Carlos se tornar colunista da Folha de São Paulo (censurado, jornal de direita) ou melhor Caros Amigos ou Carta Capital, ou até quem sabe o novo Fernando Sabino e um dia quando o Wal-Mart tiver comprado todos os mercados sem exceções nos encontraremos no estacionamento! Eles com carros zero e eu com o carrinho usado de um poeta ou músico frustrado ou um professor de sociologia! Então virão as perguntas:

-César, encontrou um amor inocente?

-Sim, casei com ela! Depois separei e ela levou tudo, inclusive as crianças!

-Carlos, achou a maleta de dinheiro?

-Olha meu caro companheiro, você nem imagina o que encontrei nesse jogo da política! (Pra quem não sabe o Carlos tem profundas ligações com um grande partido do Paraná).

Mas talvez se até lá essa mania de fazer compras pela Internet já tenha se popularizado evitemos esse tipo de constrangimento e passemos para outro tipo, conversa com velhos amigos via MSN. Pelo menos os silêncios no MSN são menos chatos dos que o na vida real!

6 comentários:

Unknown disse...

Tchago, o senhor é mesmo um fanfarrão. Gostei muito da explanação, mas faço algumas correções:
1) Pelo que consta, o almarte será arrendado a preço de banana pela PapaPão, que comprará também o Google, a Coca-Cola e a Casa das Coxinhas;
2) Quando eu me tornar presidente do famigerado partido com o qual nutro tão profundas quanto funestas ligações não me darei mais ao luxo de ir ao mercado. Nem de escrever com próclises. Apenas dar-me-ei o trabalho de incumbir subalternos de fazê-lo por Mim;
3) Você foi muito audaz em citar a Folha de São Paulo. O César do jeito que é já corta o mercham. De qualquer forma, merece os parabéns;
4) Falando nele, já é um gênio literato. Famoso bem pode ser. Agora, bem compreendido é que complica;
5) Faltou no texto o nosso encontro no Mercado Livre com o Tautê: dez filhos, ativista político, orador esperantista, ainda funcionário do Requião - se Deus permitir;
6) E com a Aline. Que há de estarcomprando sabão em pó, esponja, bucha, sapólio, bombril e demais artefatos multiuso.

Unknown disse...

A saber: quem vos fala é o Carlos. A Dora é minha Santa Mãezinha. =]

Anônimo disse...

Diante de seu pequeno pessimismo em forma de preocupação, tentarei ser um pouco mais otimista, caro Thiago.

As pessoas vem e vão, mas as amizades ficam. Seja no mercado, na fila ou numa tarde de domingo quando vão comprar paezinhos e refrigerante pros seus filhos, o cheiro de naftalina pode ser a unica coisa a unir as pessoas, mas ainda as une.

É algo válido e talvez já o suficente para sentir a alegria de encontrar um velho amigo, mesmo que em outras circunstancias e com outras caras que não aquelas do tempo de escola, faculdade ou culto.

E no nosso caso, diante dessas 'conversas estranhas', você com certeza remediaria tudo com as suas piadas! Hehehe

Thiago Elias disse...

Caríssimos, comecei a ler os comentários e me assustei! Quem seria Dora? Como ela sabe tanto sobre nós? Logo percebi (pela abraleirização de um trmo em inglês que só poderia ser o Carlos (só poderia ser brilhante). Mas deixo a indicação que já tive o privilégio de bater um papo rápido com a dano Dora, uma senhora mui bem educada!


Quanto o Tautê e a Aline não citei porque não fazerm parte, pelo menos não diretamente deste projeto de blog!

E espero sinceramente que nossas amizades, Carlos e César, continuem e perpassem qualquer cheiro de naftalina.
grato,
Thiago Elias.

Gabriela disse...

Hehehe. Engraçado, mas é bem assim mesmo! Difícil manter uma amizade depois de perdido esse laço que a unia. Mas é possível! Tenho um grupo muito refinado de amigos que superaram o final do ensino médio e hoje não se classificam como amigos de escola, de faculdade, de igreja, de projeto... São amigos só, pura e plenamente.
Ainda assim, acho muito divertido e gracioso encontrar amigos antigos. Numa lembrança, num afeto, ainda resiste um pouquinho de amizade.

Também achei estranho ver a dona Dora falando essas coisas. E pretendo ainda ser amiga do Carlos quando ele encontrar a maleta. =)

Beijos de boa semana pros senhores!

Fernando Neves - KroSS disse...

Surgi ,assim, meio que aleatoriamente do limbo oculto dos blogs... mas, gostei muito desse texto!

Sempre tem um Zé ninguém, né?
:D