terça-feira, 6 de outubro de 2009

Outras breves questões acerca do mundo laboratório

Homenagens rendidas por temas baratos

Em nossa última publicação – Algumas Breves Considerações Acerca do Mundo Laborativo –, o Thiago arranhou o ponto fundamental da mais alta antropologia já produzida, que procuramos retomar neste precioso texto que vos prende a atenção: aquilo que diferencia os homens. Segue o excerto que conclui o artigo anterior:

“Creio que a maioria se misturaria com as pessoas, usaria seu incrivel
instrumental político para ascender na carreira, daria mostras de sua
inteligencia e potencial, mas eu, tímido, sem muita afeição pelos seres humanos,
que nunca gostei de política, e preferi estudar a sociologia interacionista,
fico lá tirando xerox, carimbando papel, e analisando as relações sociais,
tranformando quatro anos de faculdade de ciências sociais em um belo
passatempo...”
Primeiramente, cabe lembrar que a tradição antropológica bestruturalista já respondeu em parte à questão fundamental: apenas os grupos humanos são capazes de produzir cultura. Se essa cultura nasce dum biguebengue epistemológico ou se ela se deu gradativamente, dos primatas aos promíscuos, cabe aos neurocientistas do Fantástico responderem. O fato, porém, é que a partir dessa produção é que o ser humano se torna ser humano. É o que o diferencia como tal.

Em segundo lugar, é superficial considerar o homem cultural como um produto antropológico acabado. O circo é nômade por excelência. Faz-se necessário questionarmos que homem é esse; que cultura é essa; que conhecimentos e valores são esses. Se não podemos considerar mais ou menos complexos e evoluídos um grupo em detrimento de outro, a razão quantitativo-visual promove uma reflexão que reside entre a curiosidade mórbida e o interesse empático.

Que diferenças são essas? – insistimos. Proponho que respondamos pelo excerto retirado do texto do Thiago, a quem não chamo pelo sobrenome de Elias, para evitar ambigüidades. Seguindo no trem azul, depreende-se do trecho extraído que há sobretudo duas esferas que permeiam as posturas que se pode assumir em comunidade: uma político-cênica, evidenciada pelo ser de contatos ou relações que protagoniza sua sociabilidade ao nível da linguagem interpessoal; e uma psicológico-sinestésica, caracterizada pela interiorização do ser, pelos monólogos ou diálogos silenciosos, pelo nível da consciência.

Eis o que diferencia manifestações culturais em termos subjetivos. Trata-se de fenômenos psicológicos, social e culturalmente determinados, cuja motivação subsidia as reflexões acima propostas [que homem é esse; que cultura é essa].

Não é difícil identificar, aliás, em que lado desta dicotomia nos filiamos. Observemos o Thiago, novamente. A postura de espectador perante o mundo adulto-sério é complementada compreensivelmente por participação ativa nas esferas que exigem essa profundidade subjetiva: escrita, música, religião...

Para complementar, a dicotomia fecha-se com o César, colaborador-alfa deste blogue. O César é um racionalista por natureza. Se o Thiago gosta de café preto, o César logo acrescentaria que o Thiago pensa que gosta. Isso não faz do César má pessoa; apenas o torna pouco afeito a visitas em ateliês, por exemplo. Aliás, sua afeição tão superficial à arte pode comprometer seu apreço por este texto.

Enfim, este trabalho antropológico de fôlego, qualitativamente inédito, não tem por objetivo central narrar a forma cativante como determinado grupo social casa, come, defeca, transa, sobe em árvores ou descasca abacaxis – mesmo porque etnografia urbana é deveras perigoso nas capitais. Ainda assim, esperamos que a contribuição que vos prende os olhos seja inscrita nos anais da mais alta produção artística a ser vendida em bancas e revistarias, em conformidade com a vocação antropológica.

2 comentários:

Lili Tormin disse...

Eu sou suspeita para falar, sob minha visão a antropologia é linda em todas as suas faces...
O texto chega a me deixar emocionada, rsrs.
Mas não posso deixar de comentar que a etnografia urbana não deixa de ser excitante!
Guto, sua escrita é sempre surpreendente e inovadora.
Ler-te é um prazer (principalmente quando escreve cartas.rs)

César disse...

"apenas os grupos humanos são capazes de produzir cultura".

...e daí eles vão lá e fazem um blog suspeito. Vai entender.

Seu flerte com a antropologia é antigo Carlos, quando vai voltar pro sexto andar da reitoria? =)