sábado, 13 de novembro de 2010

As Ciências Sociais ( me formei \0/ ... e agora? o_0 )



4 anos e meio depois do fatídico rito de passagem do vestibular, eu me formei em ciências sociais! Não, isso não faz de mim um socialista (apesar de assim eu me definir política-ideologicamente) mas sim um cientista social, ou um sociólogo, como queiram. “Que legal, o quê que você faz?” No momento desempregado, e sim, provavelmente em algum momento da vida eu terei que dar aulas, mas agora já estou até gostando da idéia. Pois bem, a idéia deste texto não era falar das coisas práticas da conclusão de um curso de graduação, mas sim de alguns momentos pelos quais passei e coisas que eu senti (afinal isto ainda é um blog).

Em primeiro lugar, não importa o quanto te avisem que é um curso extremamente teórico e que exige muita leitura, você nunca está suficientemente preparado! Chegou em determinados momentos a ter cerca de 200 páginas de leitura por semana, e não era aquela leitura agradável do tipo Fernando Sabino, Arthur Conan Doyle ou Jonathan Swift, mas leituras complexas, e mais, fichamentos, trabalhos, participação em sala (blergh), seminários...A monografia então foi pior, sim foi pior do que todos dizem que é! O pior ainda porque quando eu estava escrevendo-a estava trabalhando, num desses empregos normais de 8 horas por dia e salário de fome no fim do mês, e tinha aula a noite, e monografia de madrugada.

Pois bem, sobrevivemos! Olhando em retrospecto há quem diga (né César) que eu tive mais sorte do que juízo, porque neste jeito manso de ser muitas vezes levei as coisas com a barriga e mesmo assim tirei ótimas notas, das duas uma, ou eu tinha uma grande imaginação sociológica ou boa parte das matérias e professores eram picaretas (prefiro acreditar na segunda opção).

Agora o que realmente nos atormente neste curso, o que nos desmotiva e impede de lutar a boa batalha são a dúvidas existenciais que ele te apresenta, e que você invariavelmente interioriza. Não sei se é possível descrever o que é cansaço mental, mas é algo que, diferente do cansaço físico, não passa após uma boa noite de sono. Alias, muitas vezes perdemos o sono nos debruçando sobre as questões mais variadas, repensando conceitos que tínhamos como certo tentando achar uma solução, definir a teoria mais plausível para acreditar. Afinal o nosso instrumento de trabalho são as palavras, e há autores que usam as mesma palavras para dizer coisas diametralmente opostas e não há como apenas aprender sem definir acreditar em uma ou outra.

Eu gostava de ficar olhando pela janela do nono andar (ou do sexto mesmo) da reitoria, da UFPR ver as pessoas pequenas lá embaixo e ficar conjecturando alguma teoria que fizesse sentido que desse conta de explicar a religião, a ciência, o amor, a paixão, o ódio, a evolução (não me surpreende que as pessoas me considerem tão confuso, dado meuinconstante estado mental). É difícil ser cristão/protestante (evangélico, para alguns) militante e entrar num curso desses, é estranho ter que questionar o tempo inteiro sua fé, suas tradições, seus ritos, e olhá-lo como mais um rito.

Mas nem tudo foi tão nebuloso assim, afinal foi nesse tempo que conheci, pessoas incríveis (certo Carlos, Aline, César, Taute) com que fiz amizade, alias dois deles até toparam fazer um blog comigo e de repente desapareceram dele. Infelizmente, ou felizmente pra eles, apenas o César concluiu o curso também, alias me dando muita força (no sentido da praxis - trabalhos, provas, seminários) pra continuar.

Enfim, é realmente estranho estar formado, a gente fica com uma sensação que não aprendeu nada, mas no fim tenho pra mim que a coisa mais importante que aprendi nesse curso é conferir o mesmo status a todo o tipo de discurso. É muito bom desconstruir a legitimidade da ciência (até mesmo das ciências sociais) como discurso hegemônico capaz de explicar tudo e todos, e perceber que cada pessoa constrói uma visão de mundo única e tão capaz de explicar sua realidade quanto um tratado de milhares de páginas que nunca será aberto. É interessante ser capaz de entender razões econômicas, egoístas que perpassam todo o tipo de acontecimento. E muito mais desafiador é procurar algo que seja feito com alma (mesmo que essa seja uma construção de um discurso moderno ocidental e individualista) no meio de tudo isto.

Por fim durante a colação de grau fizemos o juramento de nos importarmos sempre em nosso trabalho com a questão social, e realmente acredito que nada no mundo faz sentido se não nos importarmos com os outros antes de pensarmos em nós. Afinal a própria Biblia afirma, ironicamente no livro de Tiago (1:27), "Para Deus, o Pai, a religião pura e verdadeira é esta: ajudar os orfãos e as viúvas em suas aflições e não se manchar com as coisas más deste mundo".


Amém...