quinta-feira, 4 de março de 2010

Seria uma piada?

Precisei de uma identidade nova – a de papel e plastico, não a moral e metafísica. E o que já prometia ser minimamente demorado – a fila no Instituto de Identificação do Paraná ia bem longa – conseguiu demorar ainda mais, pois um funcionário veio dar a terrível noticía: o sistema caiu.

O “sistema”, ou então o grande Sistema. Seja com letra maíscula ou com as aspas neuróticas, ele tinha caído e ia atrasar a coisa toda. Sentado na cadeira de espera, suspirei e fiquei a olhar o povo a minha volta. Foi curioso que depois que o tal funcionário deu o aviso, todos os outros foram até ele. Reunião de última hora para solucionar o problema do Sistema? Que nada. Começaram a ter uma conversa muito da animada, tão animada que logo tudo era risos e dancinhas festivas. Deviam estar rolando uma piada muito boa.

- Aí ele perguntou pra mim, ”Ah, então vai ser rapidinho,né?”. Hahahaha, rapidinho! Hahaha.

Já que todos os atendentes, dos 8 guichês, riam horrores, deve ter sido mais ou menos isso.

Mas se eu estava lá, só estava por causa de outra piada: a primeira semana de aulas da UFPR. Essa piada, aliás, que a gente cansa de tomar conhecimento todo início de semestre, mas sempre acaba indo, acordando cedo, se apressando todo para não chegar atrasado e causar uma má impressão ao professor; em suma, faz tudo que um veterano sabe que não precisa fazer.

É sempre uma piada que ninguém entende direito. Eu pelo menos não entendo nada e tô sempre lá só pra perceber que nem aluno nem professor vão dar as caras. Assim como não entendi aquela rodinha dos funcionários do Instituto de Identificação tão animada. E por não entender a gente acaba ficando - como dizem no interior - de varde.

Sei lá, vai ver o Carlos e o Thiago, agora também funcionários públicos, metidos nas engrenagens institucionais, sovados pela máquina burocratica, rodados nas rotinas dum servidor, entendam essas piadas. Talvez também riam com elas enquanto os outros ficam lá, sentados, com compromissos desmarcados, com um tempo que não depende mais deles, ficando cada vez mais rabugentos, cada vez mais cegos diante de algumas limitações reais que não dependem de modo algum da boa vontade do funcionário público risonho em questão - justamente por que ele é todo risonho.

Diante disso tudo uns se emputessem com direito e legitimidade, e outros só por puro tédio – como eu timidamente assumo.